sexta-feira, 30 de abril de 2010

Metamorfoseando - Uma breve adaptação


Ao acordar após sonhos agitados viu-se em sua cama, metamorfoseado num monstruoso insecto: "O que me aconteceu?" - Pensou. Mas não era um sonho. “

No interior do meu quarto, o silêncio. Porém, dentro de mim, em minha mente, sonhos inquietos me perturbavam. Sonhava com o mar, que é a única paisagem que consigo admirar quando estou em viagem a trabalho. Porém, nesse sonho, a maré estava alta, o barco balançava de uma forma que todos a bordo não conseguiam se segurar. Com tanta reviravolta, sentia enjoos incontroláveis, minha cabeça rodava e, quando dei por mim, já estava fora do barco dentro de um redemoinho rápido que engolia tudo em questões de segundos.

Acordei suando. As náuseas continuavam, pareciam ter saído do meu sonho para perpetuar a inquietação. Apesar ainda desses enjoos, resolvi levantar e encarar o dia como sempre, afinal, preciso ainda de trabalho para pagar a dívidas da família e, quem sabe, ingressar minha irmã ao conservatório. Entretanto, quando tentei me levantar, senti dores que nunca tinha sentido antes, não conseguia contrair o abdome, e ainda deparei com várias patas no lugar das tradicionais pernas e braços. ''O que aconteceu comigo?'', pensei, e ainda imaginei que poderia ainda estar sonhando, um sonho mais perturbador do que o anterior, que além de fazer me sentir mal ainda me transformou em um inseto.



Percebi que não era um sonho, mas ainda meio inconsciente pensei mais uma vez em meu trabalho e que talvez eu já estivesse atrasado para mais uma viagem. Resolvi, então, sair da cama de uma vez, depois de tanto esforço. Mas estava sentindo algo que nunca tinha sentido antes, a vontade de não ir trabalhar. Ouvi minha mãe me chamando e questionando sobre a minha viagem, se eu já não estava atrasado. Eu respondia, porém aparentemente ela não estava me ouvindo. Senti minha voz um pouco estranha, mas acreditei que talvez tivesse sido algum resfriado que a mudou.

Escutei outra voz em casa, voz que não costumo escutar, mas que não era estranha. Quando a identifiquei, tomei um susto: era o meu gerente que estava à minha procura. “Será que estou tão atrasado assim?”. Resolvi sair do quarto e me desculpar, e ouvi minha mãe dizendo que talvez eu não estivesse me sentindo bem. Depois de muito trabalho, consegui abrir a porta e ver todos a minha espera. Entretanto, quando a abri, percebi um breve espanto de todos. Algo havia mudado.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Noturna

Nada melhor do que chegar em casa, tomar um banho, comer algo fresco e depois dormir, sem barulho algum. Como a Lei de Murphy sempre está próxima, isso não ocorreu: chego em casa e me deparo com pratos e copos na pia e nada de comida, já que não tem água pra lavar a louça e nem para preparar algo. A caixa d'água está vazia por conta de uma construção no piso superior, o que já ocasiona o desconforto para dormir: além de barulho de martelo, furadeira, carrinho de mão para lá e para cá, também há o pó. Não satisfeita com pouca desgraça, mais tarde ainda tem o inquilino que acorda e insiste em cantar "Ilariê" para o papagaio, e não percebe que ele não gosta da música, já que não aprende a cantá-la e a escuta diariamente há mais de um ano. 
Nada de banho, comida e silêncio. Só resta o sono do cansaço, o que é inevitável, mesmo com tantos poréns. Ainda é necessário acordar de bom humor caso alguém ligue quando o sono está vindo, ou bata na porta somente para perguntar algo que poderei responder tranquilamente depois de ter descansado. O sorriso tem de estar nos lábios, pois caso contrário dirão que levantei com o pé esquerdo. Mas como, se nem dormi?

É pau, é pedra, mas não é o fim do caminho: só do meu sono.