quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A perpetuação da memória

Estava cada vez mais pálido, magro, aparentando enfermidade. Aquela sensação angustiante sempre o surpreendia ao acordar. Era seguida de uma súbita vontade de cair aos prantos. Por muitas vezes, achava melhor não ter de acordar, pra não ter tais sensações. Sua família não deu importância ao seu estado, e chamava-no de fraco. Evitou os amigos, pois sabia que sua companhia era desagradável.

Só desejava algo que não podia ter mais, mas a única coisa que tinha e que não queria deixá-lo era a solidão.

Por alguma razão, num dia qualquer e depois de ter ficado muito tempo isolado, saiu sem destino. Pegou um ônibus e foi até o final da linha. A viagem foi longa, mas ao ver pessoas e a luz do dia, sentiu-se em paz. Chegando ao final, pegou outro ônibus, e foi até ao término desta outra linha.
 
Fez destas viagens uma rotina. Resolveu intercalar com outras atividades, como ir ao cinema, almoçar, visitar museus, sentar no verde de um parque para ler um livro e até buscar um emprego. Mas ao chegar em casa, relembrava tudo que havia ocorrido no passado, lamentava-se por não se acostumar com as perdas e dormia para amenizar a dor.

Conseguiu um emprego, reviu os amigos, conheceu algumas garotas, mas sempre optava por ficar só. Percebeu que, independente do que acontecesse, a solidão nunca o abandonaria, e a amou por ser tão fiel. A vida social era satisfatória, mas quando chegava em casa as lembranças lhe bombardeavam e lágrimas rolavam até o sono chegar.

Acostumou-se assim, até sua última viagem, da qual não voltou. A solidão não o abandonou nem nesse último momento. De qualquer forma, foi um fim feliz: que lembranças teria agora?

(***sujeito a alterações)

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